"A importância da discussão de gênero no Serviço Social" Artigo feito por Márcia Tavares, Assistente Social, Doutora em Ciências Sociais pela UFBA, pa

Neste artigo, trago uma breve reflexão sobre a importância da discussão de gênero no Serviço Social. Em primeiro lugar, cabe esclarecer que sexo e gênero não são sinônimos, enquanto o primeiro diz respeito à anatomia, equipamento biológico, o segundo é uma construção social, histórica e cultural que estabelece, em cada sociedade, época, cultura e geração o que é próprio para meninos/homens e meninas/mulheres, isto é, formas de pensar, se comportar e agir distintas, mas também acesso diferenciado a posições e oportunidades.

 

No tocante à escolha e exercício profissional, há uma clara divisão entre ocupações consideradas masculinas ou femininas. O Serviço Social, assim como outras profissões tidas como femininas, aquelas “que cuidam”, é uma profissão desvalorizada, uma vez que a divisão sexual do trabalho confere mais valor à produção (masculina), em detrimento da reprodução (feminina). Em suma, a identidade da mulher como trabalhadora está atrelada ao seu papel reprodutivo, à esfera doméstica, o que desqualifica e desvaloriza o trabalho feminino, repercutindo nos baixos salários das assistentes sociais. Ademais, os programas e projetos sociais nos quais atuamos têm como público alvo, principalmente, mulheres assalariadas flexíveis em tempo parcial, que diante do contexto de precarização do emprego e das condições de trabalho, têm sido submetidas a uma segmentação ocupacional, tanto referente ao gênero, quanto à raça. 

 

Essas mulheres, além de conciliarem a esfera produtiva (trabalho) com a esfera doméstica (família), para terem acesso aos benefícios dos programas de transferência de renda, por exemplo, devem cumprir as condicionalidades estabelecidas, o que não só contribui para reforçar a maternagem, ou seja, os papeis de gênero tradicionais atribuídos às mulheres, como provoca o alongamento do tempo social feminino, já que esses programas se apoderam gratuitamente do tempo reservado pelas mulheres aos cuidados, isto é, ao trabalho reprodutivo.

 

Enfim, estou ciente de que poderia apresentar outros argumentos para enfatizar a importância da discussão sobre gênero no Serviço Social, mas, por falta de espaço, as questões aqui levantadas tiveram apenas o intuito de instigar a curiosidade das/os leitoras/es. Para finalizar, apenas acrescento que, se o Serviço Social tem como objeto a questão social, a desigualdade de gênero é um de seus elementos constitutivos e, por isso, acredito que não podemos prescindir do debate sobre gênero no espaço acadêmico, no processo de formação ou no exercício profissional, seja o gênero como uma das expressões da questão social seja o gênero como categoria analítica, lente que amplia o nosso olhar sobre a realidade social.

 

** Márcia Tavares é: Assistente Social, Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia, Professora do Curso de Serviço Social do Instituto de Psicologia e, Professora e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulher, Gênero e Feminismo (PPGNEIM) da Universidade Federal da Bahia, Vice Coordenadora do Observatório pela Aplicação da Lei Maria da Penha – OBSERVE.

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