80 anos do Serviço Social na Bahia

"Tudo o que não se converte em história se afunda no tempo." (Mia Couto)

É com essa afirmação e pela busca da memória como um direito humano universal que hoje, dia 15 de fevereiro de 2024, celebramos os 80 anos do Serviço Social na Bahia. Essa trajetória é marcada por uma conjuntura complexa, diante do aumento significativo da marginalização da população pobre e negra, sequelas de um processo de abolição inconcluso, fruto de projetos republicanos que não centralizaram a perspectiva de cidadania para grande parte da população a partir da consolidação do capitalismo industrial e imperialista. Quando grande parcela da população não obtinha acesso ao mercado de trabalho e, com o fim da II Guerra Mundial, as economias mundiais estavam destruídas, rebatendo diretamente no poder de compra da classe trabalhadora, intensificando ainda mais a complexidade das expressões da questão social da época, foi fundada a Sociedade Civil Escola de Serviço Social da Bahia, em 15 de Fevereiro de 1944 (mesmo dia e mês de fundação da Escola de São Paulo).

Criada sem finalidade lucrativa, com personalidade jurídica privada, registrada no 2º ofício de registro das pessoas jurídicas da Comarca do Salvador (situado atualmente no bairro do Comércio), com o objetivo de “se preocupar com as demandas sociais, ao mesmo tempo em que buscava soluções para atenuar as manifestações da questão social”, como aponta os registros documentais da Escola de Serviço Social da Universidade Católica do Salvador.

A Escola foi idealizada por um grupo de cidadãos baianos, tendo estes uma relação próxima com a ação católica e com entidades prestadoras de serviços assistenciais no estado, que tinham como objetivo solucionar e minimizar os problemas sociais que se estabeleciam. Dentre estes, Fernando São Paulo (professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia-UFBA), Henriqueta Martins Catharino (presidente do Instituto Feminino da Bahia – IFB), Anfrísia Santiago (professora e diretora do colégio Nossa Senhora Auxiliadora), Dom Antônio Mendonça Monteiro (Bispo auxiliar da Arquidiocese da Bahia) e o seu principal líder, o Dr. Thales Olímpio Góes de Azevedo, que ocupava a direção da Secretaria do Conselho de Assistência Social do Estado da Bahia, era presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica, conhecia de perto os problemas no estado e quem mais firmemente permaneceu com a ideia da formação da Escola na Bahia.

O Serviço Social na Bahia tem suas particularidades, mas é conectado com o Brasil e a América Latina, sintonizado com as organizações políticas da categoria ao longo da sua história: a luta pela defesa da nacionalização do petróleo, pelo fim do autoritarismo ocasionado pela autocracia burguesa no período da ditadura civil-militar, no processo de reconceituação da profissão, lutas pela democratização da sociedade, na disputa histórica e necessária da luta de classes vinculada aos movimentos sociais e às forças progressistas, defesa intransigente do projeto ético-político e das políticas públicas. 

Ademais, nesse processo formativo e combativo , é fundamental reconhecer e destacar a essencial contribuição da incorporação da Escola de Serviço Social à Universidade Católica do Salvador, formando a ESSUCSAL, sendo pioneira na formação das Assistentes Sociais em nosso Estado e tendo contribuído para a materialização do projeto ético-político do Serviço Social e pela luta ao lado da classe trabalhadora.

Num contexto de celebração, é necessário não só reafirmarmos nosso compromisso com a profissão no enfrentamento da precarização das condições de trabalho e da vida, como é fundamental fazermos a defesa das atribuições, dos princípios e competências profissionais, os quais dão régua e compasso à nossa categoria para uma atuação ética e de luta.

 

Autoria: Pitágoras Varjão e Deysiene Cruz

 

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