CRESS-Ba realizou roda de conversa sobre mulheres racializadas e incidência político-comunitária

A luta por direitos e políticas públicas nas comunidades e territórios foi o mote da roda de conversa “Mulheres racializadas e incidência político-comunitária”, realizada pelo CRESS-BA no dia 09 de março, na sede da autarquia.

Participaram lideranças comunitárias como debatedoras, assistentes sociais e também estudante de Serviço Social. A atividade foi transmitida no canal do Conselho (youtube.com@cress-ba).

A primeira a falar como convidada foi Leninha, uma das lideranças presentes da Associação de Moradores do Conjunto Santa Luzia do bairro Uruguai. Ela contou a história da associação e da Escola Comunitária Luiza Mahin, frutos da necessidade de disputar as políticas públicas para a comunidade e de combate ao racismo e machismo desde a infância. Ela também pontuou a auto-organização das mulheres na busca por autonomia, principalmente econômica.

Leninha falou ainda sobre o papel do Serviço Social para a incidência política, no diálogo entre os governos e população, e também na formação e educação comunitária, pontuando que as/os assistentes sociais precisam ocupar esse espaço e fazer acontecer o projeto ético-político nas comunidades, não apenas com o trabalho técnico nos limites das instituições como CRAS.

Na oportunidade, a conselheira Géssica Santos, que fez a coordenação da roda, reforçou a fala de Leninha ao apontar que a assessoria aos movimentos sociais é uma atribuição das e dos profissionais e está no Código de Ética do Serviço Social.

Na sequência, a palavra foi de Raimunda Oliveira, integrante da Coletiva Mahin e do Coletivo Mulheres, Políticas Públicas e Sociedade (MUPPS), que falou sobre a atuação com a questão gênero e raça, e a luta pela emancipação das mulheres negras. Falou de projetos para promoção da dignidade menstrual de pessoas e a interface com o racismo ambiental, sobre os cursos preparatórios para concursos, refletiu a questão da juventude, o proibicionismo e a dita “guerra às drogas”. “As comunitárias chegam onde não chega os serviços públicos”.

Ela também trouxe reflexões acerca da realidade de precarização do trabalho de mulheres pretas, mesmo aquelas com ensino superior, tendo como exemplo as próprias assistentes sociais. “Muitas mulheres jovens não vêem mais sentido no estudo. O racismo estrutural expulsa essas mulheres do mercado qualificado”, afirmou.

A outra convidada foi Rutian Pataxó, economista e mestranda em Estudos Étnicos e Africanos (UFBA), conselheira indígena no Conselho Estadual para Sustentabilidade dos Povos e Comunidades Tradicionais, coordenadora executiva na Associação Nacional de Ação Indigenista, coordenadora do Projeto Filhas da Ancestralidade e ouvidora adjunta da Defensoria Pública da Bahia.

Sua abordagem trouxe questões relativas às violências institucionais sofridas na Universidade, principalmente nos anos iniciais das políticas de cotas e ações afirmativas, apontando que a luta pela educação é sobretudo uma busca para transformar a realidade das comunidades, muitas em situação de extrema pobreza, e que a demarcação de terras é a luta central de todos os povos indígenas. Rutian afirmou que o principal objetivo, para os povos indígenas, ao ocupar diversos espaços é de não serem tutelados, poderem falar por si, mas que as barreiras institucionais são muito grandes. Também denunciou a alta letalidade do estado da Bahia e as estratégias para dividir os povos e os fazerem disputar o pouco que é oferecido.

Ela apresentou a atuação do projeto Filhas da Ancestralidade para visibilizar a existência das mulheres indígenas, ao compreender que a falta de conhecimento sobre a realidade dos povos indígenas perpetuam preconceitos e estigmas. Atualmente, o projeto está realizando um diagnóstico do perfil das mulheres indígenas na Bahia a fim de embasar as demandas das políticas públicas voltadas para elas, e também promovendo formações.

A última a falar como debatedora, participando em formato remoto, foi a Yalorixá Thiffany Odara, mulher trans mestranda em Educação e Contemporaneidade (PPGEDUC – UNEB); especialista em Gênero, Raça e Sexualidade; vice-presidenta do Conselho de Mulheres de Lauro de Freitas; e conselheira do Conselho Municipal de Promoção de Igualdade Racial (CMPIR). Ela inicia a fala afirmando que a dissidência de gênero é um lugar de resistência contra a estrutura patriarcal machista e racista. “A gente fala de um país que mais mata pessoas trans. A gente fala de uma província [Brasil], onde o corpo negro está tentando se estruturar. A disputa de narrativa também é disputa de poder”, afirmou.

Ela abordou ainda que a ausência de políticas públicas e a falta de espaços de participação das comunidades é racismo, porque há uma intenção nessa negação, e que as comunidades, através da cooperação, cumprem o papel dessas ausências, seja na ressocialização de pessoas que foram encarceradas, na luta pela saúde, pela educação e por outros direitos.

A roda de conversa está disponível na íntegra no canal do CRESS-BA (acesse aqui).

 

 

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