Audiência debate extermínio de jovens em Salvador

Desaparecimento de Davi Fiúza motivou a realização do evento na Câmara Municipal

No dia em que a Declaração Universal dos Direitos Humanos completa 66 anos de promulgada pela Organização das Nações Unidas (10 de dezembro), a Câmara Municipal de Salvador, por meio da Comissão Especial de Defesa da Criança e do Adolescente, debateu em audiência p
ública dirigida pelo vereador Hilton Coelho (PSOL) o tema “Violência, extermínio e desaparecimento de adolescentes e jovens de Salvador”. Um relatório da audiência será encaminhado ao Governo do Estado da Bahia, Ministério Público e Defensoria Pública.

 

O debate no Centro de Cultura da Câmara, na manhã desta quarta-feira (10), foi motivado após Rute Fiúza denunciar à Comissão Defesa da Criança e do Adolescente da Câmara, em 18 de novembro, o desaparecimento, em 24 de outubro, do seu filho Davi Fiúza, que teria sido levado por supostos policiais militares no bairro de São Cristóvão. A discussão serviu para manter articulada a rede que luta contra crimes e desaparecimentos de jovens negros e moradores das áreas periféricas da cidade.


“Há um genocídio em curso”, denunciou o vereador Hilton Coelho, presidente do colegiado de Defesa da Criança. Ele informou que Salvador ocupa a terceira posição no ranking nacional de homicídios de jovens negros e lamentou que os casos resolvidos em todo o Brasil não cheguem a 3%. “São dados terríveis e subestimados, pois há represália de quem promove o desaparecimento e o extermínio desses adolescentes”, considerou.

 

Mobilização social

Conforme o vereador Waldir Pires (PT), analisando o caso pelo viés do processo histórico, “ainda não conseguimos construir uma sociedade democrática e falta muito para o Brasil respeitar a dignidade da pessoa humana”. Para combater a violência, defendeu mais mobilização social, sendo a audiência realizada pela Câmara uma etapa deste processo.


Os vereadores Fabíola Mansur (PSB), Luiz Carlos (PRB) e Sílvio Humberto (PSB) criticaram a falta de empenho por parte das polícias e defenderam a criação de propostas, projetos e políticas públicas específicas para os casos de desaparecimento forçado, racismo e truculência.


O vereador Leandro Guerrilha (PSL) buscou outro ponto de vista ao pedir à plenária que refletisse sobre a pergunta: “O que eu fiz para isso estar acontecendo comigo?”. Na opinião do vereador, a violência é um caso muito complexo e que dificilmente será solucionado por completo. “Com educação, esporte, carinho e atenção o sofrimento pode ser amenizado”, considerou.

 

Indignação

Indignada com o desaparecimento do filho, Rute Fiúza questionou “as ações truculentas da polícia com jovens negros, pobres e moradores da periferia”. Ao tentar descrever o seu sentimento, a mãe de Davi disse que há um vazio dentro do seu ser. “Pior do que enterrar um filho é não ter notícias do que aconteceu com ele. Quem o levou tem nome, tem placa, tem tudo, mas todos dizem não saber de nada”, confessou.


“Pare a matança!”, implorou Hamilton Borges, militante da Campanha Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta. Referenciando-se no trabalho Racismo e Política Criminal, depositou culpa no governo baiano, considerando-o responsável pelos casos de homicídio de negros. “O que o governo está fazendo para acabar com isso?”, questionou, cobrando responsabilidade da Secretaria de Segurança Pública.

 

Trabalho social

Representando a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia, Vilma Reis atentou para a agonia das mães dos jovens desaparecidos e exterminados. Ela pediu a aprovação do Projeto de Lei nº 4471/12, que extingue o Auto de Resistência, obrigando que todas as mortes efetuadas pelas forças policiais no país sejam investigadas e que o agente autor do disparo chame uma assistência médica para a vítima, em vez de tentar prestar socorro.
Segundo o tenente coronel Jaime Pinto Ramalho, a polícia realiza trabalhos sociais nas bases comunitárias e não atua apenas na repressão. Sobre os casos que chegam à Corregedoria, observou que seguem os princípios institucionais, dependendo de tempo.


Também participaram da audiência os vereadores Gilmar Santiago (PT), Aladilce de Souza (PCdoB) e Vânia Galvão (PT). Integraram a mesa de trabalho o reitor da Ufba, João Carlos Salles; o coordenador do Cedeca, Waldemar Oliveira; a representante da Unicef, Helena Oliveira; e o advogado Luís Plácido, representando a OAB/BA. 

Fonte: Site da Câmara Municipal de Salvador

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