Lésbicas Assistentes Sociais: Existimos e Resistimos!

 
 

A data de hoje, 29 de agosto, é reivindicada pelo movimento lesbofeminista brasileiro como Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, em alusão a data em que ocorreu o 1º Seminário Nacional de Lésbicas (1996, no Rio de Janeiro), espaço fundamental para a organização política das lutas lesbianas no Brasil.

O significado deste dia consiste em um movimento que denuncia a lesbofobia enquanto opressão e, concomitantemente, reivindica a condição de sujeita política – e portanto de direitos – das mulheres lésbicas. Isso porque numa sociedade na qual as relações sociais são estruturadas a partir do heteropatriarcado, as mulheres lésbicas são cotidianamente oprimidas e invisibilizadas.

A lesbofobia se expressa no cotidiano das lésbicas através de discursos e práticas odiosas e excludentes. Nos xingamentos e expressões pejorativas; nos olhares tortos; na hipersexualização dos corpos lesbianos; na rejeição familiar e social; nas negações de emprego e demissões injustas; na precarização dos serviços ginecológicos e de saúde como um todo; nas violências físicas e sexuais, e até na morte como formas de punição e correção das lesbianidades. 

O Dossiê Sobre Lesbocídio, elaborado e divulgado pelo Núcleo de Inclusão Social da UFRJ em 2018, revela que tem crescido o índice de mulheres mortas por serem lésbicas nos últimos anos. Os dados demonstram que de 2016 para 2017, o aumento foi de 30 para 54 registros de assassinatos motivados pro lesbofobia. Luana Barbosa, mulher lésbica, negra e mãe, foi cruelmente espancada e assassinada por policiais, pelo fato de se recusar a ser revistada por homens, em 2016. O casal de namoradas Meiryhellen Bandeira e Emilly Pereira foi covardemente assassinadas a tiros por um vizinho lesbofóbico, que as perseguiam por serem lésbicas, em 2017. Esses são lamentáveis exemplos que precisam ser expostos e relembrados para denúncia dessa situação.  Só nos primeiros dois meses de 2018, foram registrados 26 casos de lesbocídios, no entanto, considerando a subnotificação e lesbofobia institucional, supõe-se que a realidade seja mais alarmante. 

A lesbofobia se configura, portanto, como uma violência sistêmica que estrutura condições desiguais e precárias para as lésbicas, as empurrando para invisibilidade social. Todavia, no dia de hoje, para além de denunciar tais violências, é preciso destacar a luta das mulheres lésbicas pelo direito de ter direitos, pelo direito de viver! 

É nesse sentido, que relembro e saúdo as minhas pares, as mulheres lésbicas assistentes sociais que vem construindo narrativas e práticas de afirmação e ampliação da cidadania lésbica: Bruna Irineu, Marylucia Mesquita (in memorian), Mariana Rodrigues, Simone Brandão, Cecília Froemming, Tatianne Melo e tantas outras. Seja no dia a dia nos equipamentos sociais e espaços institucionais mais diversos da atuação profissional, seja nas universidades produzindo e visibilizando os saberes lesbocentrados, estas companheiras honram com o compromisso ao projeto ético político do Serviço Social, mostrando que só a luta muda a vida!

Somos assistentes sociais lésbicas existindo e resistindo contra a barbárie heteropatriarcal-racista-capitalista!

 

¹ Laís Paulo é assistente social, ativista lesbofeminista e mestranda do curso "Estado, Gobierno y Políticas Públicas" da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (FLACSO).

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